terça-feira, setembro 05, 2006

ALDEIA DOS CAPUCHOS: MEGALOMANIA URBANÍSTICA EM PLENA ARRIBA

A cidade da Costa de Caparica possui hoje pouca ou nenhuma área de expansão (à excepção das Terras da Costa, por agora salvaguardadas), sendo que actualmente as novas construções ocupam habitualmente reduzida área de implantação. É neste sentido que a fúria betonizadora se tem direccionado, actualmente, para os arrabaldes da cidade, como é exemplificativa a megalómana Aldeia dos Capuchos.

Localizada em plena Arriba e mesmo ao lado da Via Rápida, numa área já anteriormente esventrada por outras construções - OndaParque, Via Rápida propriamente dita e a interminável expansão da povoação do Funchalinho -, a Aldeia dos Capuchos ocupa uma área de 30 (!!!) Hectares de terreno, completamente moldado ao gosto dos arquitectos e empreiteiros responsáveis.

Com efeito, a terraplanagem do Aldeamento deve ser responsável por metade da fortuna que cada um dos abastados futuros habitantes terá que desembolsar por um imóvel neste local, o qual terá moradias, apartamentos, um campo de golfe de 9 buracos, um circuito de manutenção, um clubhouse com health club/spa, restaurante, salão de festas e auditórios para conferências, um country club com piscina, bar, polidesportivo com academia de ténis e futebol de sete e um hotel apartamento. Não serão coisas a mais ?

Os moradores deste luxuoso condomínio fechado terão ainda ao seu dispor cofres com segredo, video-porteiro, estores eléctricos, portas de alta segurança em madeira de carvalho com seguro anti-intrusão por roubo, uma central PowerMax com capacidade para controlar até 30 detectores e um detector de movimento, tudo para que os habitantes da Aldeia dos Capuchos se mantenham a salvo da gente das barracas das Terras da Costa que pelos vistos subsiste a escassos metros deste Aldeamento de luxo.


Apesar da reconhecida qualidade do empreendimento, a sua dimensão é deveras questionável, especialmente se pensarmos que se trata de uma área sensível e de cariz sedimentar onde nunca se deveria ter permitido tanta e tão densificada construção. Isto lembra-me a história do Sócrates e dos PIN - projectos de interesse nacional. Desde que seja direccionado à alta sociedade e traga dinheiro, vale tudo para construír. Resta-me questionar, a que preço ?

4 Comments:

Blogger nunocavaco said...

Caro caparicano eu entendo o post e até estou de acordo mas, permita-me umas correcções. Quando refere que o empreendimento vai ser feito em plena arriba isso não corresponde à verdade. O empreendimento vai ser feito em Planalto Costeiro, a arriba é no caso a vertente costeira. Por outro lado, quando fala em cariz sedimentar, isso também é falso, porque esta área está em erosão e não em estado de sedimentação. Claro que isto são preciosismos técnicos que em nada retiram valor ao seu post. O que me aborrece é a falta de articulação entre planos de ordenamento (repare que não estou a ilibar a Câmara Municipal) o que cria critérios diferentes para todo o país.
cumprimentos.

4:37 da tarde  
Blogger Caparicano said...

Permita-me discordar das suas correcções. Não tendo informação concreta sobre a geomorfologia recente desta área, estou em crer que, desde o miradouro dos capuchos até à Arriba que continua pela Quinta de Santo António, tudo seria Arriba Fóssil ou limite desta. Você considera o limite como vertente costeira, eu considero parte integrante do termo Arriba.

O cariz sedimentar da Arriba é óbvio. Apesar de actualmente ser predominante o processo erosivo, não deixa de ser verdade que a sua génese está em processos de origem sedimentar, nomeadamente da consolidação de materiais arenosos e outros.

Quanto à falta de coordenação entre planos de ordenamento, não poderia estar mais de acordo. Isso e a questão dos PDM's com 10, 15 ou mais anos, completamente desactualizados, que levam as autarquias a usar e abusar dos Planos de Pormenor ou Planos de Urbanização para alterar o que quer que seja.

8:34 da tarde  
Blogger nunocavaco said...

Caro Caparicano, já vi que sabe do que escreve e com gosto argumento consigo novamente. A questão da arriba fóssil serve para classificar uma área, mas a arriba é somente o que referi. A arriba é uma vertente costeira, ou troço, que evolui ou evoluiu por processos marinhos. É fóssil porque actualmente o mar não é um agente morfogénico ou seja, não lhe molda a forma. Está em erosão, ou seja evolui por processos sub-aéreos e logo o seu cariz é erosivo, o que ainda dá mais força aos seus argumentos. A sua génese é sedimentar.

A questão da articulação dos planos é um dos maiores problemas do país. Se quiser posso trocar umas ideias consigo. Isso é assunto sobre o qual me debruço à muito tempo.

3:29 da tarde  
Blogger Caparicano said...

Terei o maior prazer em discutir estes assuntos consigo. Tal como você, também eu tenho estudos no âmbito das ciências da Terra e do ordenamento do território, embora decerto seja bem mais novo e inexperiente que o Nuno.

Quanto ao que aqui se discute, penso que ambos estamos de acordo quanto ao facto de que toda a área onde se encontra a Aldeia dos Capuchos é sensível, geomorfologicamente instável e não comporta sustentavelmente tanta edificação. Quiz-se fazer tudo e rentabilizar ao máximo o espaço, veremos se com padrões mínimos de qualidade.

Não gostando de ser destrutivo, espero que sim..mas tenho as minhas dúvidas.

11:43 da tarde  

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