quarta-feira, dezembro 27, 2006

UM BOM EXEMPLO

Enquanto por cá se discute a betonização da Costa para fazer face a décadas de disparates e mau planeamento costeiro, na Nazaré planeia-se atempadamente o futuro com soluções ecologica e economicamente sustentáveis. Um exemplo a seguir.


A Câmara da Nazaré anunciou hoje que vai semear plantas nas dunas no concelho para evitar a erosão costeira que atinge os areais daquela zona e que se tem acentuado nos últimos anos.

Em comunicado, a autarquia informou que vão ser produzidas «quantidades significativas de espécies autóctones adequadas ao revestimento de dunas e ravinas em erosão», num projecto de parceria com a Confraria da Nossa Senhora da Nazaré e sob a orientação do investigador Paulo Rosa, da Universidade de Coimbra.


Até ao momento, foi feito o «transplante de alguns exemplares de diversas espécies dunares, tendo-se observado que cerca de metade das espécies identificadas resistiram sem cuidados, à semelhança do que acontece no seu meio natural».

Numa primeira fase, a autarquia vai semear plantas numa «ravina em erosão, localizada nas imediações da Praia do Norte, no Sítio da Nazaré» onde depois serão colocadas estacas de madeira para fixar a areia.

«Proteger os cordões dunares e as ravinas de areia dos avanços da erosão, através da fixação de espécies não-invasoras é o principal objectivo desta iniciativa», conclui a autarquia no comunicado.

domingo, dezembro 24, 2006

FELIZ NATAL CAPARICANO



Os inúmeros problemas, ao longo dos ultimos meses aqui relatados, têm o objectivo de alertar a opinião pública regional e local para o que corre mal na Costa de Caparica, uma das cidades com o maior potencial turístico do país. Façamos todos votos para que a Nossa cidade tenha longos e bons anos de vida.
A todos os leitores, o Blogue Caparica Futurista deseja um Natal em paz, harmonia e felicidade.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

ESPECIALISTA CRITICA MÉTODOS USADOS NA CAPARICA

Tal e qual já foi aqui mais que uma vez referido, o método utilizado para travar o avanço do mar em São João da Caparica é ineficaz, ineficiente e apenas irá adiar o problema. Além do mais, pela natureza das razões associadas a este fenónemeno, contribuirá ainda para agravar a situação a jusante. Leiam o que diz o "especialista"..

João Joanaz de Melo, professor na Universidade Nova de Lisboa, defende que a areia que está a ser retirada das praias do Norte vai levar o mar a «ir buscar areia a outro sítio, ou seja, às dunas», o que poderá fazer com que a destruição de 16 metros de duna que ocorreu na passada semana volte a acontecer.
Para combater este problema ambiental, o professor sugeriu que sejam aproveitadas as areias que são dragadas ciclicamente no porto de Lisboa, pois são «ideais para colocar nas praias».


No entanto, o presidente do Instituto Nacional da Água, Orlando Borges, quando explicou o processo de intervenção que iria ser feito na Costa de Caparica, disse à Lusa que o retirar de areias das praias para reforçar o cordão dunar destruído era «perfeitamente normal» e que a areia seria «reposta rapidamente pelo mar».
Uma ideia que João Joanaz de Melo contrapõe, justificando que os rios já não trazem areia suficiente até às praias e que por isso é que a zona da Caparica tem sofrido «grandes avanços do mar». Um avanço que, segundo um estudo da Universidade Nova a que a Lusa teve acesso, se salda em 410 metros desde os anos quarenta.


O especialista em gestão costeira e dirigente da associação ambientalista GEOTA explicou que a falta de areia nas praias, o mau estado das dunas e as alterações climatéricas dos últimos anos são as principais justificações para a erosão de 16 metros que ocorreu na duna. Além disso, a extracção de areia na zona da Cova do Vapor, nas décadas de 60 e 70, também contribuiu para que haja agora falta de areia no mar e nas praias.


Para Joanaz de Melo, estes fenómenos têm tendência a ser «cada vez mais frequentes» e «cada vez menos previsíveis» pelo Homem, assim, como o recuo da costa, pelo facto do clima estar a modificar-se de dia para dia.
Como possíveis soluções, o dirigente do GEOTA propõe a manutenção do campo de esporões que já existe na Costa de Caparica, a criação de barreiras rochosas submersas e a colocação de algas artificiais debaixo de água, de forma a reter a força das marés.

terça-feira, dezembro 19, 2006

PROTEGER A QUALQUER CUSTO ?

Após a discórdia gerada pelo último post, creio ser importante esclarecer todos os leitores acerca da opinião aqui descrita.

Enquanto cidadão residente na Costa de Caparica, sou o primeiro interessado em que a cidade seja preservada. Não haja a mínima dúvida em relação a isso. Aliás, o Governo e a Câmara Municipal, enquanto entidades que licenciaram o edificado existente, têm o dever e a obrigação de zelar pela sua preservação - ou providenciar compensação pelas eventuais mais valias perdidas.
Actualmente existe um paredão que protege de forma relativamente eficaz a cidade, coadjuvado pelos esporões que diminuem o impacto das ondas (embora demasiado curtos para retenção de sedimentos). Desta forma, não é ao acaso que os problemas causados pelas marés e ondas têm tido maior mediatismo nas zonas de São João e Cova do Vapor. Estas são áreas em risco cuja conjuntura, já descrita em outros posts e posta a nú ultimamente com as marés mais fortes, tem motivado várias interrogações.
Em primeiro lugar, importa questionarmo-nos acerca da viabilidade de meia dúzia de bares de praia que, por mais areia que se coloque á frente, estarão sempre à mercê das marés fora da época estival. A solução passa pelas estruturas leves de bares nos meses de Verão que sejam desmontáveis nos restantes meses do ano.

Segundamente, a Cova do Vapor - localidade referida no último post. Quantos milhões já se gastaram a proteger um bairro insalubre, com escassas condições de vida e completamente à mercê da fúria do Mar? Proteger é adiar o problema. Que se realoje quem lá vive permanentemente, transferindo-se ainda a rudimentar actividade pesqueira para a Trafaria. Muito dinheiro se pouparia.
A dinâmica marinha Atlântica na Costa é bastante intensa, incomparavelmente maior que nalguns países onde outro tipo de soluções foi possível - Holanda, Itália, etc. Importa por vezes descer à Terra e pensar em soluções eficazes e realistas. Por muito que custe aceitar a triste realidade que é, na actual conjuntura, ser naturalmente impossível a reposição natural das praias e dunas com areia. E não podemos cair no erro de querer proteger tudo.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

O QUE ANDAMOS NÓS A PROTEGER ?

Após a tempestade, mais um período de calmaria. Sem grandes ondas e com remendos de areia, toda a área há uma semana atrás ameaçada pela fúria das marés encontra-se novamente fora do espectro mediático e dos holofotes televisivos.

Mas, antes que venha mais um susto (provavelmente lá pra dia 20), importa pensar um pouco sobre o que estamos nós a proteger. Na área urbana da Costa, são óbvios os valores materiais em causa e que importa colocar a salvo. Em São João da Caparica e Cova do Vapor, as coisas não são bem assim...
Os bares de praia existem há décadas. Sempre coexistiram pacificamente com as marés, com óbvia utilidade turística e lúdica. Nos últimos anos, a sua existência tem colidido com o avanço do mar, o qual tem motivado o recuo sucessivo destes bares. A sua utilização resume-se à estação estival, onde as condições meteorológicas e marítimas permitem o seu usufruto normal. Nas restantes estações do ano, é obviamente impossível manter uma estrutura numa praia que está em rápida regressão, com um balanço negativo ao nível da provisão de sedimentos/areias e uma estrutura demasiado pesada para ser desmontável nestas alturas.
A Câmara Municipal de Almada não pode licenciar actividades económicas que correm sério risco de destruição. Poupar-nos-ia a todos a mesma telenovela todos os anos, com os donos dos bares a exigirem protecção para os seus negócios cuja viabilidade é pouca ou nenhuma.
O mesmo se aplica aos parques de campismo da INATEL, CCL e Escuteiros. Andamos a proteger equipamentos, infra-estruturas e localidades que não têm o mínimo de condições para subsistirem. Nem com os propalados diques, ideia mirabolante e descabida sem aplicação no contexto actual da Costa.
As soluções estão a montante. Tudo o que se faça no local ou a jusante apenas irá adiar o problema. O Mar não recuará.

terça-feira, dezembro 12, 2006

OBRAS DE RECUPERAÇÃO DAS DUNAS, AGORA E EM MARÇO..


Foi uma romaria ao local. Governantes vários assistiram in loco aos efeitos da fúria do Mar, prometendo muitos milhões para proteger as edificações em risco.

Com efeito, o Ministro do Ambiente Nunes Correia referiu que “não é possível fazer mais”, considerando que se “deve dar flexibilidade ao próprio litoral para se conjugar com os efeitos da Natureza”. Tudo bem, caso tivesse sido a Natureza a provocar esta situação.

As praias são áreas extremamente dinâmicas, exigindo para a sua manutenção um balanço positivo ou neutro entre a quantidade de areias depositadas e retiradas pelas ondas, marés e vento. O que aconteceu na Costa de Caparica e em praticamente todo o litoral português foi um desiquilibrio negativo deste balanço, com a chegada de cada vez menos sedimentos às praias.

O senhor Ministro veio a terreiro culpabilizar a Natureza pelos danos causados. Será que foi a Natureza que licenciou a construção de inúmeros parques de campismo, em condições terceiro mundistas e em plenas dunas ? Será que foi a Natureza que licenciou bares de praia à beira-mar de construção pesada e sem condições para resistir a mais que a época estival ? Será que foi a Natureza que deixou edificar em áreas abaixo do nível médio do mar e em pleno cordão dunar ? Será que foi a Natureza que retirou areia das praias da Costa para as depositar no abandonado cais de recreio do Parque das Nações ? É a Natureza que retira toneladas e toneladas de sedimentos do estuário do Tejo para permitir a sua navegabilidade ? Foi a Natureza que construíu um esporão enorme na Cova do Vapor para proteger um bairro que mais dia menos dia tem de lá saír ?

O que se assistiu neste comício político foi ao sacudir a água do capote e, ao mesmo tempo, da admissão da inexistência de soluções e alternativas ao ineficaz depósito puro e duro de pedra e areia.

Serão mais 15 milhões de euros a tentar remendar uma situação que só se resolverá mantendo o equilíbrio ao nível da provisão de sedimentos e demolindo definitivamente a edificação em áreas de risco.

domingo, dezembro 10, 2006

DEPOIS DE PRAIA "ROUBADA", TRANCAS À PORTA


Depois da tragédia, comecem-se as obras. Aqui está um caso paradigmático da mentalidade governativa nacional, regional e local vigente em Portugal.

Após um recuo impressionante das dunas existentes num local onde estas já eram escassas, caíu o país mediático na realidade de uma cidade praticamente sem praias e em perigo real de inundação. Com as televisões e jornais, todo um país focou por uma semana um problema ao qual os governantes amavelmente explicavam em prime time o nada que tinha sido feito até agora. Espera-se esta 2ªfeira (11/12) a visita dos Exmos. Ministro do Ambiente Francisco Correia Nunes, o secretário de Estado do Ordenamento do Território, João Ferrão, e a governadora civil de Setúbal, Teresa Almeida.
A entidade responsável e (in) competente para lidar com esta questão dá pelo nome de INAG - Instituto da Água. Após 2 anos de obras de cosmética, onde o paredão foi embelezado e aparentemente reforçado, tudo continua na mesma. Com uma excepção, o esporão da Cova do Vapor foi aumentado, aumentando também o poder erosivo a jusante, ou seja, nas Praias de São João da Caparica.

Para acrescentar à falta de visão dos técnicos e engenheiros desta entidade, apregoa-se como a cereja no topo do bolo de mais de 8 milhões de Euros gastos em obras, a recarga artifical das praias com areia retirada de outros locais. Para quem é adepto deste tipo de solução, veja-se o que aconteceu à duna em frente ao INATEL em apenas 3 dias: um recuo de 30 metros !
Agora, em cima do joelho e com as câmeras de TV a filmar, lá vem uma escavadora tirar areia da praia e colocá-la uns metros mais atrás. Mau demais para ser verdade. Enquanto o INAG não analisar a questão tendo em conta múltiplos factores, não encontrará uma solução viável para o avanço do Mar na Costa de Caparica. Espero sinceramente que a presença do Ministro e Secretário de Estado abra os olhos do país e dos vários governantes para a problemática.
Já nem se trata das praias e de um potencial turístico destruídos. Trata-se da sobrevivência de uma cidade.

sábado, dezembro 09, 2006

RUPTURA DAS DUNAS EM SÃO JOÃO DA CAPARICA



O invevitável aconteceu. Após várias ameaças, as dunas finalmente deram de si e encontram-se neste preciso momento à beira do colapso.
Antes de mais, importa contextualizar esta área. O esporão da Cova do Vapor é o maior e, além de quebrar o impacto das ondas, provoca retenção de sedimentos no lado fluvial ou Norte, e o efeito oposto no lado Sul. Começa aqui a explicação para a falta de areia, a que acresce o menor fluxo de sedimentos chegados ao Estuário do Tejo (fundamentalmente pela acção das barragens) e as constantes dragagens efectuadas pelo Porto de Lisboa.
Em segundo lugar, grande parte de São João da Caparica e da Cova do Vapor está abaixo do nível médio do mar. Sem a protecção das dunas e do paredão e deixada à mercê do avanço do Mar, esta zona estaria desde hà muito alagada.
Os parques de campismo, à semelhança do que acontece um pouco por toda a freguesia, estão desenquadrados com a realidade geográfica da zona, sendo que no CCL a solução encontrada para esbater os efeitos do mar foi a de cavar uma vala à volta do parque, qual castelo medieval...
Por último, as utilizações criminosas de areias das dunas da Costa para obras várias, das quais se destacam as do Cais de recreio do Parque das Nações, debilitaram imensamente a protecção natural de toda esta zona.
Recordo aos mais incautos que é na altura do Equinócio de Março (dias 20 e 21) que as marés atingem maior força e impacto. Duvido que as ténues protecções existentes sobrevivam até lá.
Em suma, um mix de factores antrópicos, a acção natural das marés e ondas e as especificidades geográficas desta zona levaram a uma situação de ruptura que tendencialmente irá piorar, resta saber até que ponto.